O meio do inverno e Imbolc - o sabbat do gestar
- Paola Alarcon
- 1 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

Hoje é 1 de agosto e marca bem o meio do inverno, o que simboliza que depois da descida, da regressão da energia psíquica ao recolhimento típico da estação, agora tem-se o sentido inverso, a retomada, o retorno do sol para caminharmos rumo ao florescer da primavera. (E aqui recomendo a leitura do texto sobre as Pausas e o Eremita publicado também aqui no site).
Por essa simbologia forte, hoje é celebrado o Sabbat Imbolc na tradição celta da Roda do Ano, que acompanha e ritualiza a vida de acordo com os movimentos da natureza. A palavra imbolc significa “na barriga”. Trazendo a ideia do processo de incubação, do gestar, germinar, da formação e desenvolvimento de algo que ainda está por vir.
Dentro dessa pausa, dessa regressão da energia psíquica com a estação do outono e início do inverno, algo vem sendo gestado, e agora, começa a tomar mais forma e contorno.
Em sincronia com os astros, acabamos de entrar com o sol em Leão, que também fala desse chamamento pra gente se movimentar mais pra fora, trazer o nosso magnetismo, ir para o “palco”. Mas, sem pressa, afinal, não queremos um parto prematuro, que muitas vezes vem acompanhado de complicações por conta desse ansiar logo o futuro, acelero das coisas.
É um momento de sustentar o paradoxo dentro e fora, o recolhimento e o ser visto. O não fazer com o fazer.
Cuidar dessa semente que rompe invólucro e quer despontar na terra, vulnerável. Ainda que não seja visível, carrega dentro de si todos os potenciais de florescer e frutificar.
Sustentar a fragilidade do broto, cuidar com carinho de si. Lembra que o trabalho maior, de enraizamento, não é visto, muitas vezes não é percebido ou validado pelo entorno. E só você sabe do valor e esforço desenvolvidos durante essa incubação.
Pode ser que as respostas, as confirmações, os caminhos e direcionamentos ainda não estejam aparentes, mas, continue gestando…
“Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências.” Jung
Respire e… continue! 😉
Hoje também é celebrado o dia de Pachamama, nossa Mãe Terra, símbolo da materia e da forma, que nasceu do caos - um processo análogo ao gestar e dar forma para nossos projetos, seja o da família ou o que quer que queremos parir no mundo - e aqui vale a reflexão sobre a ambivalencia do complexo materno, da mãe que é fertil e nutre, com o equilíbrio da mãe devoradora.
Para destrinchar um pouco mais e costurar com essa reflexão e o processo alquímico do gestar, trago algumas passagens do livro junguiano "Sonhos e gravidez - iniciação a criatividade feminina" da autora Marion Gallbach:
"Gaia, a Mãe Terra, é a origem primeira de todo o universo. Primeiro era o Caos, e do nada, do qual surge Gaia, a Terra, a primeira forma, o primeiro princípio. (...) De dentro de nossa experiência de caos ao mesmo tempo está contida uma possibilidade específica de forma. (...) Numa visão linear, o caos é o regressivo que impede a progressão; numa visão cíclica, cada momento de caos tem formas dentro de si, e cada forma incorpora um caos específico. As implicações terapeuticas dessa ultima visão consistem em não se livrar tão rapidamente de sentimentos caóticos, pois com isso também se perderiam suas formas, sendo melhor conter e até nutrir o caos para que suas formas possam surgir. (...)
Mãe/materia é o fundamento de nossa existência (...) Quando nos aproximamos de nossa "matéria" - nossos substratos inferiores, nossas raízes, nosso passado, a base da qual viemos -, não é surpreendente que nos sintamos inferiores, caóticos - sentimentos dados pela natureza mesma da matéria maternal. (...) Emoções profundas, reações de corpo profundas, que não podem ser controladas, apontam para algo além da vontade, algo de poder além do humano. Nossos sentimentos de depressão, perda, a sensação de nossa natureza mais escura, o sombrio, os complexos, as limitações são o chão, a base da personalidade única e individual. Tentar diminuir tais experiências, sair desses complexos, racionalizá-los, seria também perder nossa possibilidade para a terra, para o corpo psíquico. Essas limitações formam nossa terra psíquica, o chão no qual as coisas se materializam, acontecem e se tornam substanciais, e no qual as experiências de vida podem se ligar. A percepção de nossos limites e limitações são o solo materno sobre o qual nos apoiamos; e estando embasados, estamos intimamente conectados com a experiência e os benefícios do solo. Não só a terra física, o corpo, nos liga à divindade da Mãe Gaia, ms também a nossa terra psíquica."
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