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Adoecimento psíquico, corpo e libertação do trauma



Traumas podem surgir de abusos, violência, acidentes e perdas súbitas, mas também podem se originar de experiências mais sutis, como negligência emocional e estresse contínuo. Quando uma pessoa se sente ameaçada ou impotente, isso provoca uma desregulação emocional e corporal que afeta profundamente o sistema nervoso. 


Segundo Bessel van der Kolk, autor de O Corpo Guarda as Marcas, o trauma não se define apenas pela gravidade do evento, mas pela maneira como o indivíduo reage a ele. Como explica o psiquiatra, o trauma provoca um impacto profundo nas emoções e no corpo. 


Práticas como o yoga ajudam a regular o sistema nervoso, promovendo a comunicação entre o corpo e a mente, estabilizando as emoções. Essas práticas afetam diretamente nossa fisiologia e em especial o nervo vago, que é o principal condutor entre o corpo e o cérebro.


Cerca de 80% das fibras do nervo vago são aferentes, o que significa que elas transmitem informações do corpo para o cérebro. Esse fluxo de informações é crucial, pois aponta para o mecanismo via de mão dupla corpo-mente, não são só nossas emoções que impactam o corpo, o manejo do corpo também influencia intensamente o estado emocional.

A regulação emocional ocorre quando o córtex pré-frontal, responsável pelo autocontrole e pela tomada de decisões, equilibra as respostas emocionais geradas pelo sistema límbico. Práticas de manejo corporal auxiliam no fortalecimento dessa comunicação entre essas regiões cerebrais, ajudando as pessoas a responder de forma mais equilibrada às emoções intensas.


Além disso, a fala também é essencial para a recuperação de traumas. Os psiquiatras Freud e Breuer, em seus estudos sobre histeria, observaram que memórias traumáticas não processadas verbalmente tendem a ser revividas através de padrões de comportamento repetitivos e inconscientes. Um exemplo comum é a repetição de relacionamentos abusivos, onde o indivíduo se envolve constantemente em relações prejudiciais. Isso pode ser visto como uma tentativa inconsciente do corpo e da mente de processar uma experiência traumática não resolvida, como negligência emocional ou abandono, que não foi adequadamente expressa ou compreendida.


A influencia do inconsciente, portanto, se dá quando uma pessoa não se lembra do trauma e tende a representá-lo através de ações, sem perceber que está repetindo o evento original. A ausência de memória verbal ocupa um lugar central no trauma, e quando este não é processado pela fala, ele acaba sendo revivido através do comportamento. 


Padrões nocivos podem ser expressões corporais de traumas não resolvidos.

Os psiquiatras observaram que os sintomas de histeria desapareciam quando traziam à luz a lembrança do fato que o provocara e seu afeto concomitante. Falar, portanto, permite a expressão e o processamento do trauma. Sem essa expressão, o trauma permanece "preso à memória" e se manifesta em comportamentos repetitivos e prejudiciais. 


Assim, a combinação de práticas corporais e verbais ajudam na regulação do sistema nervoso e facilitam o processamento das memórias difíceis, libertando padrões e ajudando o indivíduo a desenvolver mais assertividade e autocontrole.

 
 
 

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​© 2024 por Paola Alarcon.

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